Eu não deveria estar vivo, mas estou

Minha vó materna passou a infância na zona rural. Com pouca comida. Com poucos recursos. Com pouca esperança. Em uma ocasião até mesmo caiu de um cavalo, mas ilustres desconhecidos a ajudaram. Duas de suas irmãs morreram em condições precárias e nada garantia que ela fosse sobreviver aquilo. Mas sobreviveu.

Meu pai viveu em uma vizinhança pobre e tomada pelas drogas. Teve amigos que sucumbiram ao mundo do crime e tiveram um destino sangrento. Passou fome muitas vezes e teve que comer farinha com açúcar como ‘almoço’. Ele podia se unir aos números horríveis de mortalidade infantil e criminalidade do país, mas sobreviveu, e dentre bilhões de pessoas, aconteceu de ‘se topar’ exatamente com minha mãe, e se apaixonou por ela, e ela por ele.

Hoje, tenho 22 anos, mas já fui projeto de gente. Quando estava grávida de mim, longe de casa, minha mãe sofreu um acidente ao cair de uma escada. Nisso, ela bateu com a cabeça e teve que andar de cadeira de rodas por um tempo. Os médicos disseram que eu não nasceria (ou seja, seria um natimorto) ou, se aquela improbabilidade se tornasse realidade, eu nasceria com defeitos.

Ainda que pessoas como Richard Dawkins digam nestes casos, o melhor pra sociedade é o aborto; meus pais decidiram seguir com o processo de gravidez e estou vivo até hoje.

Eu não deveria estar vivo, eu nem deveria ter existido. Mas aqui estou.

Na última quinta-feira completei aniversário e recebi bem mais do que merecia, por bem mais gente do que eu esperava. Por este motivo, oro hoje como o bispo de Hipona: “Me destes tantas coisas, Senhor. Dá-me mais uma coisa: um coração grato.”

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