Guerras, conflitos, discussões calorosas na internet, fome nas esquinas, hospitais repletos de pacientes. Parece sinopse de um filme apocalíptico, não é? Mas, se olharmos ao redor, perceberemos que esses frames já fazem parte de nossa realidade e são alguns dos muitos indícios de que o mundo não vai nada bem.
O caro leitor já deve ter observado nos noticiários que ao mesmo passo em que o homem progride nas áreas de tecnologia e ciência, ele retrocede quando o assunto é empatia, respeito e amor. O que nos leva a questionar (ou deveria) “Qual é a causa de tanta dor?”
O apóstolo Paulo adverte ao jovem Timóteo a respeito disso quando escreve “Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.” E não para por aí. O nosso irmão e missionário Paulo vai nos levar a entender porque enfrentamos tanta dificuldade quando nos relacionamos com nossos semelhantes:
Sim. O problema consiste nessa paixão desenfreada que temos pelo nosso “eu”. Estamos sempre correndo atrás de sucesso seja ele profissional, físico ou emocional. Vale ressaltar que o esforço para conseguir uma boa carreira, ter uma vida saudável e a mente livre de traumas não é algo ruim. Pelo contrário. As Sagradas Escrituras nos exortam a buscarmos equilíbrio cuidando de nosso corpo, alma e espírito. Todavia, este mundo decaído distorce a orientação bíblica e leva o homem a colocar toda sua devoção em si próprio, esquecendo, portanto, de estender a mão ao seu próximo.
Acredito que, assim como eu, você já parou para refletir sobre qual é sua missão aqui na terra. Essa necessidade de encontrar nosso encargo no mundo se deve ao fato de fazermos parte de um plano maior. O plano arquitetado por Deus para humanidade. E sabemos que num plano todas as peças que fazem parte dele são fundamentais. Cada papel deve ser bem distribuído e executado. Sabe as cachoeiras belíssimas do Foz do Iguaçu? Foram feitas planejadas e criadas para humanidade. Vocês se recordam do tom único de azul que o céu possui? O colorido das flores? E o canto dos passarinhos ao despertar de um novo dia? Toda beleza que há no mundo são lembretes de que Deus se importa com os seres humanos. Cada homem ou mulher são relevantes nos planos do Senhor. Isso me traz à memória o poema do John Donne (1572-1631) que inspirou canções, romances e filmes ao longo da história:
Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa ficará diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”. (John Donne, “Meditações”. [tradução Fabio Cyrino]. Edição bilíngue, São Paulo: Editora Landamark, 2007.)
Não somos uma ilha. Não precisamos nem podemos estar isolados em nós mesmos. Cada um pode ser útil ao Reino quando entende que faz parte de um todo sublime. Como já disse Rookmaaker: “Todos podem lutar pelo Senhor em seu próprio campo e com sua própria capacidade.”
Ao longo da história, muitos homens e mulheres descobriram no Evangelho a importância de servir aos seus semelhantes e dedicaram intensamente suas vidas a isso. O alemão George Müller (1805 – 1898) pode nos servir como um forte exemplo de abnegação. Ele se converteu aos 20 anos e em 1829 foi para a Inglaterra onde trabalhou para o Senhor até o final de sua vida alimentando, vestindo e educando milhares de órfãos com pouquíssimos recursos. Müller entendeu que todas aquelas crianças faziam parte do continente e que mesmo sofrendo tantas carências, elas também eram importantes para Deus. Ele permitiu que sua existência fosse transformada e retribuiu transformando outras pessoas. E não é por esse caminho extremamente gratificante que Cristo nos guia?
Não podemos ser apenas amantes de nós mesmos quando o Senhor conta conosco (e nos capacita) na missão de expandir o seu Governo. Ele próprio nos ensina isso quando envia seu Filho por amor aos pobres, cativos, enfermos e perdidos.
Mesmo vivendo tempos tão trabalhosos precisamos cultivar em nossos corações disposição para desafiar a solidão e o desamparo deste mundo. Devemos embarcar no primeiro barquinho e sair da isolada ilhada que criamos para nós mesmos rompendo as barreiras que nos afastam sejam elas econômicas, sociais ou culturais de nossos irmãos. Que nossos olhos contemplem no outro alguém que necessita ser amado, pois Cristo nos amou e para cada um de nós preparou uma morada eterna onde não só os sinos dobram para cada filho seu, mas como também o próprio Deus anseia ardentemente abraçá-los.