Não é de hoje que a presença dos evangélicos na esfera pública tem chamado a atenção da mídia. Evangélicos aparecem em novelas, filmes e charges satíricas. E, com o frequente aumento de participação evangélica na política, as atenções se voltaram de forma quase que exclusiva para o grupo na campanhas de segundo turno nas eleições de 2022 por parte dos dois candidatos.
Entretanto, pontos cegos nesta apresentação dos evangélicos por parte da mídia são constantes. 66% das matérias da Folha e 72% das matérias da Globo sobre os evangélicos são sobre a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), quando os seus fiéis representam menos de 2 dos 60 milhões de pessoas que se declaram evangélicas no Brasil. Já as Assembleias de Deus, maior denominação segundo o IBGE, foi assunto apenas de 4 de 244 matérias em um estudo publicado na PUC-SP.
Pesquisas também mostram que as matérias sobre evangélicos são marcadas por uso de ironia, estereótipos e desligitimização dos fiéis. Usando de termos como ‘rebanho’ para caracterizar o evangélico médio como alguém ignorante e manipulável. E fazendo com que o povo brasileiro, em geral, e em especial as elites, tenham uma visão distorcida de quem são os evangélicos e quais são seus verdadeiros posicionamentos em relação a temas da sociedade pública e da política.
Em redes sociais como o Twitter, são frequentes as postagens descaracterizando os evangélicos ou falando do grupo como uma ameaça para a democracia. Em algumas postagens, é possível encontrar o termo ‘talibã brasileiro’, como forma de alertar para o suposto perigo de que o Brasil viva uma teocracia no estilo do livro O conto da Aia, onde os direitos são suprimidos por causa do governo ditatorial de religiosos fanáticos. E muitos afirmam que, como o Brasil é um estado laico, os evangélicos devem deixar a religião de lado se quiserem participar da política.
No livro ‘Quem tem medo dos evangélicos‘, o jornalista e teólogo pentecostal Gutierres Fernandes Siqueira vai lidar com esta multidão de estereótipos que o termo ‘evangélico’ carrega no Brasil. Para quem está de fora, os evangélicos podem parecer um grupo monolítico que vota em conjunto nas eleições e que simplesmente não possuem qualquer coisa a acrescentar na política além de pautas morais. Mas esta é uma representação falsa, já que os evangélicos tem dentro de si uma pluralidade maior que qualquer outro grupo religioso brasileiro. Gutierres vai apresentar de forma introdutória o que realmente é ser evangélico e pinta o quadro diverso que se encontra dentro dos templos; e também explica, a partir das principais doutrinas cridas pelos evangélicos, como estas bases bíblicas, dogmáticas e sociais não apenas são compatíveis com a democracia, mas também podem fortalecer a mesma.
A comunidade, com efeito, é um conceito essencialmente plural. Um ajuntamento de pessoas que pensa igual e reproduz a mesma cultura não é comunidade, é tribo.
Gutierres Siqueira
Durante o livro, ele vai lidar com os pontos cegos tanto dos progressistas quanto dos conservadores, de acordo com uma visão bíblica do que seria idolatria política. Vai falar da incompatibilidade da missão da Igreja com a ideia de existir uma nação cristã. E também vai explicar como e por que os evangélicos devem fazer política.
“O conservadorismo e o progressismo são filhos bastardos do cristianismo: o primeiro é a tradição sem o Logos, o segundo é o milenarismo sem o reinado de Cristo.“
Gutierres Siqueira
Para quem não é evangélico, esta é uma ótima leitura introdutória para ter uma visão mais ampla no movimento evangélico e de sua relação com a política. E para quem é evangélico e deseja começar a estudar sobre política de acordo com uma visão bíblica, este livro também vai ajudar muito a manejar os conceitos iniciais.
Quem tem medo dos evangélicos?: Religião e democracia no Brasil de hoje (Amazon)
Autor: Gutierres Siqueira
Editora: Mundo Cristão
128 páginas
Avaliação: ★★★★☆ – Muito bom