Billy Graham: o evangelista do século XX

Um dia você vai ouvir que Billy Graham morreu. Não acredite nisso. Naquele dia, eu vou estar mais vivo do que nunca! Vou ter apenas mudado de endereço.

Billy Graham foi possivelmente o pregador que alcançou mais pessoas na história do cristianismo, com mais de 200 milhões de ouvintes no mundo todo em mais de 180 países. Se estima que mais de 3 milhões de pessoas se entregaram a Cristo ouvindo suas pregações. Em 21 de fevereiro de 2018 recebemos a notícia de que Billy Graham já não está mais conosco. Pessoas do mundo todo prestaram homenagem ao maior nome do evangelicalismo. Mas, como foi sua vida e seu testemunho?

Infância

O primeiro dos quatro filhos de William e Morrow Graham, William “Billy” Franklin Graham Jr. nasceu em 7 de Novembro de 1918 na cidade de Charlotte, Carolina do Norte, EUA. Ele cresceu na periferia da cidade em meio a uma família de fazendeiros de origem presbiteriana escocesa, que acreditava numa observância estrita dos valores morais.

Ainda na infância, Billy foi levado em uma visita a casa de sua tia, e, no local, as crianças receberam a ordem de seus superiores para ler a Bíblia. 10 minutos depois a sua tia recebe uma notícia que lhe alegra muito, o pequeno Billy vai correndo correndo em sua direção pra dizer que tinha acabado de ler ‘um livro inteirinho da Bíblia’. Mal sabia ela que ele tinha lido o livro de Judas, com apenas 25 versículos!

Mais tarde, já na adolescência, Billy Graham ouviu falar que um grupo de estudantes ia a um encontro evangelístico do Dr. Mordecai Ham para arrumar briga e talvez até mesmo bater no pregador. A curiosidade dele foi logo despertada e quis ir ao evento para observar o que aconteceria. Felizmente, não aconteceu nada, mas ele conta que foi depois de ouvir o Dr. Ham naquele dia que passou a compreender seu próprio pecado e rebelião. Pouco antes de seu aniversário de 16 anos, Billy Graham saiu adiante durante um dos encontros do Dr. Ham e aceitou a Jesus como Salvador. Ele conta que logo nos primeiros dias passou a cantar hinos enquanto ordenhava as vacas na fazenda da família.

O chamado

Em 1936, Billy Graham foi aceito no Bob Jones College para estudar teologia, mas achou as regras da instituição muito estritas e decidiu se mudar junto a um amigo para o Florida Bible Institute. Foi em sua estadia lá que ele decidiu trocar de denominação, passando a ser um Batista do Sul.

Durante seu período como estudante no Instituto, Graham foi chamado de última hora pelo Decano para realizar uma pregação. Ele conta que na época só conhecia quatro sermões, e nenhum era dele, eles eram “emprestados”. Ele diz que tomou coragem, se levantou e pregou durante oito minutos e que depois daquela experiência, passou a acreditar que Deus o havia chamado para pregar o Evangelho.

Ele diz que pegou uma canoa, foi para uma ilha que ficava perto do seminário, e começou a praticar seus dons de pregação com os jacarés, pássaros e árvores da região. Ainda assim, ele diz que ainda não tinha certeza de seu chamado. Foi só em 1938, enquanto caminhava num clube de golf, que Billy Graham se ajoelhou, se prostrou diante do Senhor e orou “Oh, Senhor. Se queres que eu te sirva. Servirei.”

Pregador

Em fevereiro de 1939, Billy Graham foi ordenado ao ministério da Batista do Sul. Ele pastoreou brevemente uma igreja em Western Springs, Illinois, até que em 1944, ele foi convidado para participar da Juventude para Cristo (Youth for Christ). Seu trabalho na Juventude consistia em viajar pelos Estados Unidos e pelo exterior treinando os líderes eclesiásticos a organizar encontros de jovens.

Em 1947, ele pregou durante sua primeira cruzada em Grand Rapids, Michigan, e passou a viajar pregando em cruzadas cada vez maiores. As mais famosas foram em Boston, Los Angeles e Washington. E foi a partir da cruzada de Los Angeles que ele começou a chamar a atenção nacional. 

O grupo “Cristo para a Grande Los Angeles” (Christ for Great Los Angeles) o havia convidado para pregar na ‘cidade dos anjos’ e durante sua estadia ele teve a oportunidade de falar no programa de rádio de Stuart Hamblen, que atraiu certa visibilidade na imprensa local. O que ninguém contava era que aquela participação chamasse a atenção do magnata William Randolph Hearst (que inspirou o filme Cidadão Kane) e que suas cruzadas passassem a ganhar cobertura em jornais do país inteiro.

No ano de 1955, ele realizou sua primeira cruzada internacional em Londres, Inglaterra. Se estima que os números foram de cerca de 2 milhões de ouvintes e que milhares de pessoas entregaram sua vida para Cristo. Durante seu tempo na Inglaterra, ele se encontrou com a Rainha Elizabeth II, chefe da igreja Anglicana, o que rendeu no ano passado (2017) um episódio da série The Crown, da Netflix (2 temporada, episódio 6).

Casamento e família

Billy Graham conheceu a sua futura esposa no Wheaton College e ela causou uma grande impressão nele. Ruth Bell era filha de missionários médicos presbiterianos que serviam na província de Kiangsu do Norte, na China, onde ela morou até os 17 anos. Ela foi estudar no Wheaton na mesma época que Graham. Ele diz que após conhecê-la, demorou um mês pra criar coragem e pedir pra sair com Ruth. Eles se casaram em 1943, mesmo ano em que terminaram seus estudos no Wheaton. E em 1945 eles tiveram o sua primeira filha, Virginia Graham; seguida de Anne, em 1948; Ruth, em 1950; Franklin, em 1952; e Nelson, em 1958. Ruth Graham veio a falecer em 2007, aos 87 anos.

Estilo de pregação

Sua pregação raramente se estendia além do terreno das doutrinas fundamentais. O estilo de pregação de Billy Graham normalmente seguia esta sequência:

  • Ele começa oferecendo um ponto de identificação com o público. Talvez até com uma piada.
  • Provê evidência de que há algo de errado com o mundo.
  • Anuncia que há esperança em Cristo.
  • E chama o público para fazer uma escolha responsável a mensagem de Cristo naquele momento, antes que seja tarde.

Sua pregação raramente se estendia além do terreno das doutrinas fundamentais. O estilo de pregação de Billy Graham normalmente seguia esta sequência:

Há um poder embutido na mensagem da cruz e ressurreição. Ela tem seu próprio poder comunicativo. O Espírito Santo toma essa mensagem simples da cruz com sua graça redentora e a usa para inspirar vidas com autoridade e poder. (…) Tenho certeza que este era um dos segredos do Senhor porque as pessoas o ouviam de boa vontade, Ele falava a linguagem deles.

Sua pregação não abusava de termos técnicos. Suas frases eram simples e Graham gostava de usar parábolas. Ele dizia que:

Ele dizia que independente de onde pregasse havia características que todo publico conhecia. Que as necessidades da vida não são supridas de forma completa por melhorias materiais. Que há um vazio em cada vida sem Cristo que só Deus pode preencher. Que existe uma solidão cósmica nas pessoas. Que as pessoas tem um senso universal de culpa. E que há um temor universal da morte.

E ao falar sobre o pecado, ele usava de experiências comuns do dia-a-dia: Violência, disparidade econômica, preconceito, desvalorização da vida, etc. Pois “também comunicamos o evangelho ao mostrar preocupação pela situação social.”

Billy Graham no Brasil

Billy Graham no Rio de Janeiro em 1960

Costuma-se dizer que só três pessoas conseguiram fazer calar o estádio do Maracanã: o jogador uruguaio Chiggia, autor do gol que desclassificou o Brasil da Copa do mundo de 1950; o cantor Frank Sinatra e o papa João Paulo II. Mas, em 6 de outubro de 1974, Billy Graham conseguiu fazer 219.427 pessoas orarem em silencio dentro do maior estádio de futebol do mundo. Isso aconteceu durantes uma de suas pregações na cruzada do Rio que durou quatro dias e que conseguiu reunir um total de 615 mil pessoas.

Billy Graham iniciou sua primeira mensagem lembrando que, naquele mesmo local, Pelé encantou multidões com sua arte com a bola.

“Devemos orar por toda a comunidade, que está passando por grandes dificuldades” exortou, em pleno apogeu da Guerra Fria. Graham enfatizou que Jesus Cristo é a única esperança para o homem. E o Brasil de 1974 bem que precisava de esperança. Em pleno regime de exceção, via surgir o fantasma da crise econômica.

Os dados da BGEA (Billy Graham Evangelistic Association) apontam que 25.756 pessoas se decidiram por Cristo na cruzada. O então presidente Ernesto Geisel recebeu de Graham uma Bíblia e declarou que as cruzadas representavam um fortalecimento espiritual para o país.

Além da equipe de Graham, centenas de pastores e milhares de voluntários participaram da organização da cruzada, uma megaoperação jamais vista no Brasil.

E aquela não foi a primeira visita que Graham fez ao Brasil — ele já estivera aqui em 1960, no Rio de Janeiro, e em 1963, em São Paulo. Ele também pregou no estádio do Morumbi, na capital paulista, em fevereiro de 1979.

O posicionamento na luta pelos Direitos Civis

Encontro entre Martin Luther King e Billy Graham

A Cruzada de Nova Iorque também marcou um desenvolvimento no ministério de Graham. Em meio as tensões raciais, Billy Graham convidou Martin Luther King Jr. para discutir a situação. O que esse evento implicava? Que Billy Graham estava dizendo tanto a brancos como a negros que estava disposto a ser identificado dentro do movimento de Direitos Civis. E a partir daquele momento, Martin Luther King poderia apresentar Billy Graham aos negros como um aliado em sua luta.

Proximidade com a Casa Branca

Após o escândalo de Watergate explodir no governo do presidente Nixon, Billy Graham começou a advertir a seus companheiros sobre as tentações que esperam os líderes religiosos que queiram adentrar na arena política. Quando surgiu na década de 70 um grupo chamado de Direita Religiosa (Religious Right), Billy Graham não quis participar e alertou aos líderes cristãos para que tivessem cuidado de não buscar ganhar influência política as custas do impacto espiritual.

A resistência de Billy Graham ao engajamento político, no entanto, é encarada pela maioria de seus admiradores como uma prova de sabedoria. Fosse de outra forma, é possível que o evangelista não pudesse contar com tantos colaboradores, o que comprometeria o alcance de seu ministério.

Billy Graham sempre foi zeloso com o conselho divino de ‘fugir da aparência do mal’, tanto no que diz respeito à sua conduta pessoal quanto à administração de recursos financeiros, os dois pontos mais delicados de qualquer ministério. Seu nome jamais foi associado a rumores de adultério ou prostituição. Foi assim que, durante a caça às bruxas iniciada nos Estados Unidos nos anos 80 a partir dos escândalos com os outros mega evangelistas Jimmy Swaggart e Jim Bakker, entre outros, Graham saiu ileso. Conta-se, por exemplo, que o pastor evitava entrar num elevador sozinho com uma mulher, exceto sua esposa.

Visão Global

Billy Graham participou também de movimentos mundiais para discussão entre evangélicos, como o Congresso Mundial de Evangelismo, que aconteceu em 1966, em Berlin, com a participação de 1.200 ministros de 104 países e o Congresso Internacional de Evangelização Mundial, ocorrido em Lausanne, Suíça, com a participação de 2.400 delegados de 150 países.

E a partir de 1978, Billy Graham obteve permissão de pregar em vários países debaixo da Cortina de Ferro, controlados pelos soviéticos, onde falou contra as restrições religiosas impostas pelos líderes comunistas. Ele pregou em Budapeste em 1989, em Moscou em 1992, em Pyongyang em 1992 e em Pequim em 1993.

Fundamentalismo e evangelicalismo

‘Um evangélico é alguém que gosta de Billy Graham. Um liberal é alguém que acha que Billy Graham é um fundamentalista, e um fundamentalista é alguém que acha que Billy Graham é um apóstata.’ David Dockery

Billy Graham é conhecido como o ‘coração’ do movimento evangelical, que tem como marca a pregação evangelística chamando a um “novo nascimento” por meio cruz da Cristo. O movimento também é conhecido por chamar a uma colaboração entre evangélicos na evangelização, mesmo em discordância quanto a escatologia e predestinação.

Os fundamentalistas mais radicais se desentenderam com o projeto de Billy Graham após a cruzada de Nova Iorque, onde ele se juntou aos mais modernos. Como os fundamentalistas põem sua oposição ao liberalismo como militante, eles acreditam que juntar-se a eles ou dar ênfase a ações sociais juntamente ao evangelismo seria perder terreno ao inimigo.

Billy Graham, no entanto, falava abertamente da literalidade do céu e do inferno, da deidade de Cristo, do nascimento virginal, da expiação e da ressurreição. E dizia acreditar que o Fim está próximo: “Há 38 sinais que Jesus disse que buscássemos, e cada um deles está se cumprindo.”

Anos recentes

Billy Graham foi pouco visto fora de casa após a morte de sua esposa em 2007. Em 2013, ele lançou o que se pode ter sido seu último sermão, chamado de “Minha esperança América”. Nele, ele se diz preocupado com a saúde espiritual da nação. “Nosso país precisa muito de um reavivamento espiritual. Houve tempos que eu chorava, enquanto ia de cidade em cidade e via como as pessoas haviam se afastado de Deus.”

Em uma ocasião, quando perguntado sobre o que faria de diferente em seu ministério, ele respondeu: “Eu teria falado menos e estudado mais, eu teria passado mais tempo com minha família, e passado mais tempo me alimentando espiritualmente, buscando a Deus para que eu me parecesse mais com Cristo. Mas de uma coisa eu não me arrependo, de meu compromisso por muito anos ao aceitar o chamado de Deus como pregador do Evangelho de Cristo.”

Ele falou repetidas vezes que gostaria de morrer no púlpito, pregando a Palavra de Deus, “Sei que não vai demorar muito para eu ir para o céu”, admitiu, emocionando a todos em uma de suas últimas cruzadas em New York.

Termino com o último parágrafo de seu último livro ‘Você está preparado?’, de 2015:

Para mim, a maior revelação é saber que, quando o Senhor me chamar para o lar, onde eu estiver, será onde ele estará também, aguardando no lugar que tem preparado para mim desde o princípio. Esse é o Reino Eterno do Grande Eu Sou. Não é de espantar que ele seja Rei!

Billy Graham

Com informações de Christianity Today, NY Times e Telegraph.

Deixe o seu comentário

Rolar para cima