No dia 4 de Abril de 1968, o pastor Martin Luther King foi assassinado na sacada de um hotel em Memphis, Tennessee. Em vida, seus sermões deram voz ao movimento contra a segregação racial e o racismo no Estados Unidos. Ele pregava a igualdade de raças aos olhos de Deus, o direito ao voto do povo afro-americano e a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho.
Sua vida
Filho e neto de pastores, Martin Luther King Jr. nasceu em Atlanta, no estado da Geórgia, no ano de 1929. Os nomes de Martin e de seu pai, o pastor Martin Luther King Sr., foram escolhidos como homenagem ao alemão Martinho Lutero, que lutou pela reforma da Igreja e a volta à centralidade da Bíblia. Durante toda a sua vida, Martin Luther King Jr. foi influenciado pela visão bíblica do homem criado à imagem de Deus.
Quando criança, seus pais o ensinaram desde cedo que qualquer forma de racismo estava contra a vontade de Deus e sempre o protegiam de qualquer tipo de discriminação. Mas, essa tarefa era quase impossível no sul dos Estados Unidos. Aos 8 anos, numa loja de Atlanta, ele levou um tapa de uma mulher, que disse em voz alta “você é aquele crioulo que pisou no meu pé”. E em outra ocasião, ele foi impedido de brincar com uma criança; por ele ser negro, e ela, branca.
Martin foi crescendo e, ao chegar na adolescência, foi se afastando cada vez mais dos planos da família. Foi só no penúltimo ano do Ensino Médio, quando ele recebeu aulas de estudo bíblico, que sua fé em Deus foi reavivada e ele mudou de idéia sobre o ministério.
Quando jovem, concluiu os cursos de Teologia e Sociologia como o melhor da sala; e, aos 23 anos se casou com Coretta Scott, com quem teve quatro filhos. Dois anos depois, King se tornaria pastor em Montgomery, Alabama.
E seu ministério se encontrou no mesmo ano com as tensões raciais da cidade. O sistema de transporte público do estado do Alabama tinha várias regras de segregação. Os brancos sentavam-se na parte da frente e os negros eram obrigados a se sentar nos fundos, mesmo havendo lugares vazios. E quando os lugares dos brancos enchiam, os negros eram obrigados a se levantarem para dar lugar. Foi neste contexto que uma moça negra de 15 anos, grávida, foi presa por se recusar a dar lugar a um homem branco num ônibus.
Poucos meses depois, a costureira Rosa Parks, outra trabalhadora negra da cidade, também foi presa por se recusar a se levantar no ônibus. Foi aí que Martin Luther King se reuniu com os líderes da comunidade negra de Montgomery, muitos deles, irmãos de sua congregação, onde foi decidido que eles não entrariam nos ônibus até que negros e brancos fossem tratados da mesma forma no transporte público. Na época, os negros representavam cerca de 75% dos usuários.
O técnico em informática, Rodrigo Chaves, se interessou na vida de Martin Luther King por sua relevância para o movimento pelos direitos civis mesmo sendo religioso e não se manchando com a política. Ele conta que “Se não fosse o auxílio das igrejas batistas a luta não teria toda a repercussão nacional, assim como a ajuda primordial dos pastores da região. Durante o boicote aos Ônibus Montgomery em 1956, as igrejas se organizaram para promover caronas aos protestantes e auxílio durante aquele ano de protesto contra o racismo nos ônibus.”
Como resultado, em 1956, veio a primeira vitória do movimento e a lei de segregação do transporte foi abolida no estado do Alabama. Rodrigo diz que “Após aquele boicote, ele (Martin) percebeu que com o método não violento e o engajamento das pessoas, era possível mudar aquela situação de opressão que os negros americanos vivam. Ele então começa a reivindicar os direitos civis aos americanos e o fim da segregação racial nos espaços públicos de todo o território americano.”
Mas o movimento não agradou a todos, e alguns grupos resolveram atingi-lo com violência. Balearam a casa de King e explodiram bombas em cinco igrejas da região. Pese a isso, os irmãos não desistiram. E King se reuniu com pastores de outros estados para discutir o problema no país.
Em 1957, o evangelista Billy Graham convidou Martin Luther King para uma de suas cruzada em Nova Iorque. Nesse encontro, Billy Graham perguntou a King sobre a situação dos negros no sul dos Estados Unidos e se simpatizou com sua situação. O que representou uma aproximação maior das igrejas brancas à causa de King.
Após ser preso durante um protesto em 1960, Billy Graham pagou a fiança de Martin, que chegou a afirmar mais tarde que “se não fosse pelo ministério de meu bom amigo Dr. Billy Graham, meu trabalho na luta pelos direitos civis não teria o sucesso que alcançou.”
“Eu tenho um sonho”
Luther King pronunciou seu discurso mais famoso, logo depois ter sido preso pela segunda vez. Isso aconteceu em 1963, em Washington D. C., capital dos Estados Unidos. Rodrigo Chaves diz que “O presidente JFK tentou por várias vezes dissuadir Luther King da marcha por não garantir a segurança de 200 mil pessoas, mas Luther King entendia que aquele era o momento. Quando a cantora Mahalia Jackson gritou: ‘Fale do sonho, Martin, do sonho!’, ele começou a fazer o discurso totalmente de improviso e inspirado pelo Espírito Santo.”
Neste discurso, um dos mais conhecidos do século XX, King disse que “Cem anos atrás, um grande americano, sob cuja simbólica sombra nos encontramos, assinou a Proclamação de Emancipação. […] mas cem anos depois, o negro ainda não é livre. […] Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão viver um dia em uma nação onde não serão julgadas pela sua cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter.”
Ele terminou o sermão citando os versos do hino 116 como a concretização da esperança do povo negro americano: “Livre estou! Livre estou! Pela graça de Jesus, livre estou”.
Mais uma vez, os opositores reagiram com violência. Um mês depois, quatro meninas foram mortas com a explosão de uma bomba numa igreja. O episódio sensibilizou ao país, e o movimento pelos direitos civis ganhou cada vez mais apoio da população. Desta forma, as portas começaram a se abrir para o fim da segregação, e Martin Luther King tornou-se a pessoa mais jovem a ganhar o Nobel da Paz no ano seguinte.
Rodrigo explica que “Todos os seus inimigos entendiam que matá-lo era pior para eles, pois ele entraria para a história como um mártir. Mesmo assim, bombas foram atiradas em sua casa, ele tomou socos, tomou uma facada. Era constantemente preso por motivos mais fúteis, mesmo assim, nunca desanimou.”
A Bíblia como guia
Durante um breve período de tempo, o Movimento da Rua Azusa, que deu início ao pentecostalismo nos Estados Unidos, já havia conseguido unir negros e brancos. Mas foi necessário que Deus levantasse uma voz dentro de sua Igreja para que a mensagem de todos os homens como iguais diante de Deus alcançasse a sociedade como um todo.
Assim como o movimento pela abolição da escravatura iniciou em meio ao avivamento liderado por John Wesley na Inglaterra, o movimento pelo fim da segregação surgiu em meio ao movimento liderado por Martin Luther King Jr. nos Estados Unidos. Em seus discursos, King faz claras aplicações da Bíblia e relembra várias passagens que falam da escravidão dos israelitas no Egito, do cativeiro babilônico e da esperança de libertação.
E, contrário aos discursos inflamados de outros líderes que advogaram pela superioridade racial negra, o movimento liderado por Martin Luther King, inspirado pelo Sermão do Monte, falava da não violência e não retaliação frente ao mal. Ele dizia que “Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física.”
E em seu último discurso, Luther King encerrou sua carreira com uma frase que resume bem seu ministério na terra: “Se eu puder ajudar alguém a seguir adiante, alegrar alguém com uma canção, mostrar o caminho certo, cumprir meu dever como cristão, que é divulgar a mensagem que Cristo deixou, então minha vida não terá sido em vão.”
Que este seja nosso desejo, hoje, também.
Com informações do Christianity Today e do Fora do Éden.