Resenha | ‘Sherlock Holmes: Um estudo em vermelho’ de Arthur Conan Doyle

Sherlock Holmes é um personagem altamente conhecido até por quem nunca leu uma página do Sir Arthur Conan Doyle. O detetive rende adaptações de todos os tipos. Como a versão imaginada nos tempos modernos da BBC (Sherlock), os filmes de ação com o Robert Downey Jr., ou a saga da irmã mais nova que também resolve casos na Netflix (Enola Holmes).

Então, quem não conhece a obra literária e vai começar a ler por Um estudo em vermelho, o primeiro livro publicado por Arthur Conan Doyle sobre o detetive em 1887, já vai com certo imaginário sobre o personagem em mente. E, de certa forma, a excentricidade do Sherlock está lá. Mas de uma maneira um pouco diferente do esperado.

“Ele é desses que não se abrem em confidências, embora possa parecer bastante comunicativo quando é dominado pela imaginação. (…) Nada parecia superá-lo em energia quando era dominado por um acesso de atividade; mas volta e meia era acometido por uma reação, e permanecia durante dias a fio no sofá da sala de estar, mal proferindo uma palavra ou movendo um músculo, de manhã à noite.”

Watson sobre Sherlock

O livro segue a interessante perspectiva de Watson, um médico militar que acaba de voltar do campo de batalha e está a procura de um lugar pra morar. É aí que um amigo dele dá a dica de uma conversa com o Holmes. Sherlock é alguém altamente misterioso, e parece esconder várias coisas do novo companheiro. Mas chega um ponto que ele finalmente revela para o Watson o que ele faz. Ele é um detetive consultor, cargo que ele mesmo inventou e que desempenha para a polícia. Organização esta que, na opinião dele, é formada por um bando de detetives inaptos que terminam levando todo o crédito do seu trabalho.

É por este mesmo motivo que o Watson começa a escrever, para nos dar ‘a história não contada’, a versão real dos fatos, o segredo que ninguém na polícia quer contar sobre o Sherlock. Que seria o verdadeiro rosto por trás dos maiores casos da Scotland Yard.

Este personagem vai aos poucos revelando que ele tem uma filosofia própria, da qual ele consegue, a partir da razão e da dedução e de um conhecimento amplo de vários casos famosos, avaliar evidências e apontar a interpretação mais provável dos acontecimentos.

O caso em si que é mistério principal do livro, apesar de interessante, sofre em seu ritmo de ação e resolução por causa de uma decisão criativa do Conan Doyle de contar uma história dentro de uma história. A sensação que tive durante a leitura é que, no exato momento em que o suspeito e a polícia se encontraram, o autor percebeu que havia escrito pouco e o livro ia ficar curto para colocar em publicação. Por isso, em vez de fazer um interrogatório tradicional, ele decidiu dedicar a segunda metade do livro contando uma história que justificaria os crimes. E assim, só voltaria aos nossos personagens principais, dos quais nos apegamos, só no final do livro para amarrar as pontas.

Talvez os detalhes sobre a vida em Utah fossem novidade para o leitor daquela época, mas o apelo imaginativo não foi tão grande pra mim. E alguns dos outros leitores do livro com quem conversei compartilharam do mesmo sentimento.

Fiquei me perguntando se todo aquele trecho era importante. Se foi pra humanizar o vilão. Ou se realmente o Doyle simplesmente achou que o livro ia ficar muito curto e decidiu aumentar o número de páginas. No final, não sei responder. Mas o esforço de recriar um cenário totalmente diferente da Inglaterra vitoriana não foi totalmente em vão, já que trouxe uma justificativa interessante para os crimes. E a experiência, mesmo abaixo do esperado, não diminuiu o impacto das presenças do Watson e do Sherlock na história.

Um estudo em vermelho (Amazon)
Autor: Arthur Conan Doyle
Editora: Martin Claret
184 páginas
Avaliação: ★★★★☆ – Muito bom

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