Uma pequena reflexão sobre a música ‘Native Tongue’ de Switchfoot

A banda de rock cristão Switchfoot, ganhadora de Grammy, que chegou a ser trilha-sonora de filmes como ‘Um amor pra recordar’ e ‘As crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian’, está de volta com o seu décimo-primeiro álbum chamado ‘Native Tongue’.

Como exercício de interpretação e de apresentação do estilo da banda, gostaria de fazer uma breve reflexão sobre a letra de seu último lançamento, me concentrando na música título do disco, ‘Native tongue’.

“Cante para mim, querida, na sua língua nativa

Cante as palavras dos sábios e dos jovens

Me mostre o lugar de onde suas palavras vêm

O amor é a linguagem

O amor é sua língua nativa”

Qual é a sua língua nativa? Como brasileiro, suponho que a maioria das pessoas compartilhem comigo o português como resposta. Mas e como seres humanos? Será que há uma linguagem mais profunda que permeia nossa existência? Para os autores de ‘Native Tongue’ (língua nativa, em tradução literal), a resposta parece ser uma: o amor.

As letras da banda sempre identificaram o ato de cantar com o ato de viver. Isso fica bem claro em ‘Your love is a song’ e ‘Where I belong’. Na primeira canção, se expressa que o amor de Deus é ‘como uma sinfonia ao meu redor’, como se as paredes do universo estivessem sempre falando conosco. Na segunda, se expressa o desejo de ‘chegar no dia final tentando viver a vida como uma canção”. Já em ‘Native Tongue’, o amor é declarado como a língua nativa da humanidade, a verdadeira fonte de onde toda a nossa expressão como seres humanos vem, mas que, de alguma forma, se perdeu.

“Meu coração é um tambor batendo

Minha cabeça no esquecimento

Minha alma tão distante

De meus lábios, de meus pulmões, de minha língua nativa”

A perda da língua nativa no Jardim do Éden ocasionou no homem uma espécie de alienação: seu coração bate, mas é como tambor, ou melhor, como um sino que tine (1 Co 13.1). Sua mente já não lembra de suas primeiras palavras, e mesmo que pudesse pronunciar todas as línguas de homens e anjos e todo o conhecimento do mundo, sem aquelas palavras, ou sem a Palavra, nada seria (1 Co 13.2). Sua alma está distante do léxico divino, e seus pulmões precisam ser preenchidos novamente pela língua do amor que transborda pelos lábios em direção a Deus, como louvor, e ao próximo, como serviço (Mateus 22.34–40).

“Cante para mim, sussurre no meu ouvido

As vozes dos acusadores começam a desaparecer

No vento, nas línguas de fogo

Na minha alma, no meu único nome verdadeiro

Antes de aprendermos as palavras para começar uma briga

Antes que eles nos dissessem que os inimigos estavam certos

Você falou a verdade, que passe a haver e então houve

O amor é a linguagem

O amor é sua língua nativa”

Assim como em Pentecostes (At 2), onde os presentes foram cheios do Espírito Santo e falaram línguas de fogo, a alma daquele que está morto espiritualmente (Ef 2.5) tem que passar por um irromper semelhante. Quando as notas celestiais são sussurradas no ouvido do homem, ele é lembrado de seu verdadeiro nome e de sua verdadeira identidade como criatura do Deus de Amor (1 Jo 4.8).

“Então cante, cante bem alto

Mais alto que as vozes no meio da multidão

Mesmo quando eles tentam te afogar

Seus lábios, seus pulmões, sua língua nativa

Cante, cante bem alto”

E agora é possível cantar. Que outra atitude é possível diante do amor? Diante dessa verdade, nos resta ‘levar a vida como uma canção’.

Se em ‘Faust, Midas and Myself’ foi colocada a questão “Que direção? Que direção tomar agora” e em ‘Meant to live’ foi posto o lamento “Fomos feitos para muito mais. Onde nos perdemos?”, em ‘Native Tongue’ temos a resposta: Foi quando nos afastamos do Amor que nos perdemos, e essa é a direção que devemos retomar.

“Talvez pudéssemos aprender a cantar juntos”, diz a última estrofe da letra. Sim, que o Amor nos ajude a cantar juntos essa canção.

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