Mídia representa evangélicos de forma negativa, revela pesquisa

Segundo estudo publicado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a visão geral dos evangélicos nos grandes veículos de imprensa do país tendem a ser negativas. As matérias publicadas pela mídia possuem um foco específico em escândalos financeiros e apresentam uma denominação religiosa como o centro da maioria das coberturas realizadas sobre o grupo, mesmo não sendo a maior em números totais.

Na pesquisa, foi constatado que cerca de 66% das matérias da Folha e 72% das matérias da Globo sobre os evangélicos foram sobre a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), quando eles representam apenas 2 das 60 milhões de pessoas que se declaram evangélicas no Brasil. Enquanto as Assembleias de Deus, maior denominação do país segundo o IBGE, foi assunto apenas de 4 de 244 matérias em grandes jornais. Mostrando uma clara disparidade entre números de representação entre as populações evangélicas, que divergem entre si em diversidade de doutrinas e práticas.

“Como repórter, fico pensando no tanto de matéria boa sobre outras igrejas que talvez tenha deixado de ser feita por conta desse foco enorme na Universal,” destacou a repórter Mariana Alvim, doutora em comunicação pela PUC-SP e mestre em sociologia pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Ela também esclareceu que a temática da maioria das matérias se concentrava em criar narrativas onde ficava explícito ou implícito que a igreja era a exploradora e os fiéis os explorados. Este tipo de exposição sofreu pequenas alterações na forma de relato através do tempo, mas ocorreu de forma contínua. “Desde 1985, as vulnerabilidades dos fiéis – econômicas, culturais, na saúde – são destacadas. A partir de dezembro de 1995, surge uma nova posição de sujeito, em uma espécie de revanche: depois de terem sido ludibriados, eles vão à Justiça para reaver bens e danos morais,” explicou.

Pesquisas anteriores também demostraram que as matérias sobre evangélicos são marcadas por uso de ironia, estereótipos e deslegitimação dos fiéis. Usando de termos como ‘rebanho’ para caracterizar o evangélico médio como alguém ignorante e manipulável.

Matérias sobre grupos específicos terminam moldando o imaginário coletivo sobre aquela população. E, como consequência, terminam fazendo com que o povo brasileiro, em geral, e em especial as elites, tenham uma visão distorcida de quem são os evangélicos e quais são seus verdadeiros posicionamentos em relação a temas da sociedade e da política.

Em redes sociais como o Twitter, são frequentes as postagens descaracterizando os evangélicos ou falando do grupo como uma ameaça para a democracia. Em algumas postagens, é possível encontrar o termo ‘talibã brasileiro’, como forma de alertar para o suposto perigo de que o Brasil viva uma teocracia no estilo do livro O conto da Aia, onde os direitos das minorias são suprimidos devido ao governo de religiosos fanáticos. E muitos afirmam que, como o Brasil é um estado laico, os evangélicos devem deixar a religião de lado se quiserem participar da política.

Como efeito, esta população pode se sentir marginalizada e passar a buscar outras fontes, além da imprensa tradicional, para se informar no seu dia a dia. Este processo, portanto, exclui parte da população de ser representada e ouvida. Cria e promulga estereótipos que podem levar à marginalização. E favorece a disseminação de fake news.

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