Não deixe sua felicidade depender de alguma coisa que você poderá perder

“Não deixe sua felicidade depender de alguma coisa que você poderá perder.”

C. S. Lewis

Você talvez já tenha ouvido essa frase e até compartilhado. Eu também já compartilhei. Mas relendo esse trecho de ‘Os quatro amores’, me caiu a ficha que C. S. Lewis estava, na verdade, comentando essa frase, e não a apoiando sem restrição alguma, como parecia quando tirada de seu contexto. 

Em ‘Os quatro amores‘, Lewis faz uma análise do que verdadeiramente significa amar em suas diversas expressões. Ao comentar a natureza dos tipos de amor, chega um trecho em que ele vai se deparar com um medo muito comum à humanidade: o medo de quebrar o coração. Este temor muitas vezes vai justificar uma atitude de fechamento completo para com outras pessoas, de forma que não depositemos os nossos sentimentos em ninguém. 

A ideia expressa nesta famosa frase, que ele encontra numa passagem de ‘Confissões‘, de Santo Agostinho, na verdade, é uma recomendação à prudência. Agostinho estava preocupado em trocarmos o amor último a Deus pelo amor às coisas menores. E daí veio a sua exortação. 

Mas Lewis viu o perigo de uma outra aplicação desta máxima, exatamente aquela que pode simplesmente nos blindar totalmente de nos entregarmos a alguém por causa de um medo exagerado de nos machucar. E, de todos os argumentos contra a confiança em alguém, ele via que o que mais apela à nossa natureza e nosso senso de autopreservação é aquele que diz: “Ei, cuidado aí. Que isso pode te fazer sofrer! Fica de olho aberto e coração fechado!”. Mas esta não seria uma forma saudável, nem sustentável de se viver. 

Para o autor, o ensino de Jesus não nos chama para sermos como investidores de baixo risco, mas como pessoas que tomam riscos ao investir no amor. Não devemos ser como aquele servo que recebeu um talento e não investiu, e que quando perguntado, disse que não fez nada porque sabia que o seu senhor era perverso. Ao contrário, devemos ser como aqueles servos que investiram mais talentos e investir em amor, mesmo se isto for nos machucar (e irá em algum momento nos machucar), porque sabemos que amar é um mandamento que requer de nós muito, mas que trará muitos frutos em Cristo, pois o amor é a linguagem de nossa futura natureza nEle. 

Pra proteger o seu coração, talvez você prefira amar mais um animal de estimação do que sua família. Para evitar se machucar, talvez você prefira fugir de relacionamentos sérios. Para não ter responsabilidades, talvez você ache que seja melhor não ter filhos. Mas qual o custo disso de verdade? Será que você não estará abrindo mão de grandes alegrias por tentar fugir de possíveis tristezas? Foi pra amar menos que Jesus nos chamou? 

Por causa de decepções com relacionamentos modernos, muitas mulheres, mas principalmente homens, têm defendido a ideia que para não se decepcionar num casamento, o melhor a fazer é simplesmente fugir de um relacionamento de compromisso duradouro. Esta falta de entrega e pensamento individualista parece ser algo central no debate sobre relacionamentos hoje em dia. Onde o foco central do relacionamento é agradar o indivíduo, e sua duração vai depender somente do quanto o indivíduo está se beneficiando dele. 

A advertência sobre isso vem logo a seguir. Pois, no mesmo contexto em que ele está comentando a frase, Lewis diz o seguinte: “Amar é se tornar vulnerável. O único lugar fora de Cristo onde você pode ficar perfeitamente seguro de todos os problemas e perturbações do amor é o Inferno”.

Se você realmente quer se livrar dos riscos do amor em sua vida, você talvez possa alcançar isso, mas não poderá fazer isto e continuar sendo cristão. Já que amar e manifestar este amor com atitudes é um mandamento de Cristo. Ao se blindar da entrega também estará se blindando das recompensas. 

Claro que, assim como todo conselho, esta recomendação do C. S. Lewis também deve ser recebida com sabedoria e devemos saber aplicar ela com prudência, temperança e principalmente amor em nossas vidas.

Mas não devemos deixar de refletir sobre o seguinte: se não amarmos quem nos dá trabalho, e pode nos decepcionar para não sofrermos no final, o que nos diferencia de quem não conheceu o Amor e só pensa em si mesmo? 

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