O Coronavírus, os Arrais e o serviço ao Rei

O noticiário está repleto de palavras de crise e um constante apelo está sendo realizado por diversas campanhas para todos os que não fazem os chamados trabalhos essenciais façam apenas uma coisa: “Fiquem em casa”.

Ficar em casa pode parecer divertido e uma ótima oportunidade de descanso no começo. Mas então se começa a ver todo o esforço feito para parar a doença por parte médicos, enfermeiros e entregadores de comida, e logo se ouve ‘o som da multidão que vitoriosa chega de mais uma guerra’. E surge o questionamento do valor de outros serviços na sociedade. E de como podemos contribuir para o mundo com ‘atitudes tão pequenas’.

Na música, há um chamado a cantar as vitórias do Rei

A canção dos não-essenciais

Vemos uma situação semelhante na música Rojões, onde a dupla cristã Os Arrais reflete sobre um personagem que lamenta não estar na linha de frente. Mas que mesmo assim é chamado pelo Rei para comemorar das vitórias ganhas em batalhas. Na música, o Rei chama o servo porque ele foi fiel no que lhe parecia pouco, e o convida a celebrar porque aquela contribuição que parecia pequena foi essencial para que o Reino avançasse e para que os propósitos do Rei se cumprissem.

Segundo Tiago Arrais, a letra é baseada em certo poema que “conta a história de um indivíduo que sempre quis fazer grandes coisas pelo Reino, pelo Rei, mas ele sempre era aparentemente “deixado de lado” para realizar coisas menores: cuidar do portão, plantar um jardim, etc. Durante o poema todo ele não entende que estas pequenas coisas são importantes para o Rei. E apenas no final ele se entrega a vontade do Rei, ele se entrega a ideia de que o Rei sabe o que é melhor para nós, e que tudo que é feito para a glória Dele é em si uma grande obra.”

De certa forma, ficar em casa enquanto outro batalham tão corajosamente nos deixa com uma sensação parecida com a do personagem do poema. Sabemos que nosso serviço é bom, porque evita maiores contágios e ajuda a salvar vidas. Mas, mesmo tendo conhecimento disso, podemos nos perguntar: ficar em casa é suficiente? De certo modo, é. E nossa pequena contribuição já tem imenso valor para o Rei. Entretanto, podemos fazer bem mais do que isso, se abrirmos nossos olhos para o nosso chamado de amor e para as ferramentas que temos. Mesmo que enfrentemos limitações durante a quarentena.

O que o vírus não pode fazer

Certa vez, C. S. Lewis foi perguntado sobre o que os cristãos deveriam fazer na era da bomba atômica. E ele respondeu que “elas podem destruir nossos corpos, mas não podem dominar nossa mente.” Da mesma forma, podemos usar nossas mentes e vidas de diversas maneiras nesta quarentena para responder ao chamado de amar ao Senhor de todo o nosso coração e ao próximo como a nós mesmos.

1. Disciplinas espirituais

Uma primeira maneira que se pode destacar está na própria oportunidade de crescer espiritualmente através da leitura da Palavra e da oração. Nunca as frases ‘não tenho tempo pra ler a Palavra’ ou ‘não tenho tempo para a oração’ fizeram menos sentido. Congregar na igreja é um privilégio e estar com os irmãos é uma das marcas da comunhão cristã. Mas em momentos como este, não devemos deixar a nossa fé sem os nutrientes necessários, mas alimentar a mesma com mais vigor ainda. Dessa forma, sairemos da quarentena ainda mais preparados para o dia a dia da fé cristã, com um relacionamento mais próximo ao Salvador e com um melhor entendimento do propósito do Senhor para nossas vidas.

2. Alegrias familiares

A segunda maneira está na comunhão famíliar. Com algumas exceções, a maioria de nós se encontra neste momento junto aos nossos familiares de uma forma que não poderíamos imaginar antes. Que tal usar este tempo para conhecer melhor seu pai, sua esposa ou seus irmãos? Ou se divertir com os filhos de maneira criativa? Talvez ajudar a sua mãe com algo que ela sempre pediu mas você nunca teve tempo para fazer? Ou mandar uma mensagem carinhosa e edificante para aquela tia que você nunca mais viu? C. S. Lewis disse que “Não há nada melhor debaixo do sol do que uma família que ri em volta da mesa.” E durante a era em que estamos vivendo, todos tem a oportunidade de baixar armas, olhar nos olhos uns dos outros, e aquecer os corações com um sorriso.

“Não há nada melhor debaixo do sol do que uma família que ri em volta da mesa” C. S. Lewis

3. Testemunho virtual

Uma terceira maneira está em nossa cada vez mais constante presença virtual. Eu sempre fui uma pessoa que demorou pra responder no Whatsapp e que teve poucas conversas em grupos. Mas percebi que neste tempo de quarentena posso não apenas falar com amigos que não vejo há um bom tempo, mas também promover bom conteúdo através dos grupos de Whatsapp, apoiar quem tem pequenos negócios divulgando nas redes sociais, comentar assuntos do momento de forma equilibrada, trocar mensagens com quem passa por dificuldades psicológicas, entre outras diversas formas de ajudar uns aos outros. Nada disso é novo, mas praticar isso pode nos ajudar a manter laços e até formar novos durante este período. Danto testemunho cristão e nos ajudando a passar por tudo isso. E dessa forma, estaremos animando uns aos outros e promovendo um espírito de esperança ao lembrarmos e apontarmos para o que realmente importa na vida diária.

4. Missão comunitária

E uma quarta maneira de responder ao chamado cristão do amor está em atender a nossa própria comunidade. O acompanhamento das pessoas que mais precisam de ajuda deve estar acompanhado por um serviço sacrificial pelo próximo. Todos estamos sofrendo de uma maneira ou de outra neste momento, e todos podemos nos ajudar de alguma forma por meios virtuais, mas nem todos podemos fazer isso em todos os locais. Portanto, existe uma necessidade urgente de apoio de diferentes tipos no próprio local em que moramos. Buscar a prosperidade da cidade (Jr 29.7) é um mandamento eterno e essa vocação deve ser atendida com urgência. Ao trabalhar em nossa comunidade poderemos cumprir esse chamado hoje.

Conclusão

Portanto, independente de acharmos que nosso trabalho é pequeno, ele é essencial não apenas para impedir que a doença se espalhe, mas também para atender o chamado de nosso Salvador e de seu Reino aqui na Terra, proclamando as boas novas com nossas vidas, ações e mensagens virtuais. Assim, quando o período de quarentena acabar, poderemos ‘ouvir o som da multidão que vem de braços abertos’ com um sorriso no rosto. Sabendo que o nosso trabalho não é vão no Senhor (1 Co 15.58), e juntando nossas vozes aos ‘lindos refrões (que) ecoam dos portões, louvando o Rei e exaltando o Seu nome’.

Mas, mais importante ainda que isso, lembre-se que em Cristo, quando os gemidos da natureza pararem (Rm 8.22), e a quarentena imposta pela entrada do pecado no mundo se acabar, você estará com Ele em ruas como de ouro (Ap 21.21), onde as portas jamais se fecharão (Ap 21.25), e onde o Rei nos receberá com o sabor de um banquete e com o som de rojões.

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