C. S. Lewis e a sociedade dos homens sem peito

Vivemos em uma época em que é comum relativizar tanto a verdade como a ética como se fossem algo que depende de cada pessoa. Essa ideia, entretanto, não é nova. Quando C. S. Lewis trabalhava em Oxford, chegou às mãos dele um livro didático sobre língua inglesa (veja que o assunto sequer era filosofia) que defendia exatamente isso.

Segundo os autores, que Lewis chama de Gaius e Titius, para preservar seus nomes reais, as palavras que usamos para descrever o mundo ‘na verdade’ não dizem respeito ao mundo exterior, mas ‘apenas’ aos sentimentos de quem está falando. Apesar de discordar dos autores do ‘Livro Verde’, C. S. Lewis não acha que eles estão agindo de má-fé. Mas estão causando um prejuízo imenso aos alunos. Pois criarão ‘homens sem peito’.

Lewis explica que antes da modernidade (de Aristóteles a Agostinho), a mente era o centro dos pensamentos, o estômago era o que guiava os apetites e as atitudes impulsivas (como aquele friozinho na barriga quando bate o medo), enquanto o ‘peito’ era o centro das atitudes morais.

Mas, sem o centro moral, resta ao homem armazenar informação e agir impulsivamente. Sem ‘peitos’ bem treinados, restam homens sem convicção moral. Homens sem direção. Homens sem peito.

O homem, querendo ser livre dos preceitos morais, se torna escravo da Natureza e de outros homens. A ‘liberdade’ dos preceitos morais termina virando escravidão, portanto, a abolição do próprio homem. Como diz o título de seu livro, publicado em 1942.

É neste contexto que Lewis escreve a famosa frase:

“A tarefa do educador moderno não é derrubar florestas, mas irrigar desertos.”

Não é criar uma geração de pessoas que desconfiam de todo preceito moral, mas uma geração que tenha as virtudes bem treinadas para enfrentar o engano e a maldade. Por este motivo, revisitar C. S. Lewis é essencial para entender o cenário do mundo em 2023. Um mundo cheio de relativizações, emocionalismo, massas de manobra, debates sobre o papel do professor, e falta de postura moral de parte dos governos e governantes.

Indo na contramão do que se espera do autor de livros infantis, como Lewis é conhecido, ‘A abolição do homem’ é um dos vários tratados de C.S. Lewis sobre filosofia. E sua relevância para a área garantiu para ‘A abolição’ o sétimo lugar na lista da National Review dos cem melhores livros de não-ficção do século XX.

Você acredita que a situação de quando Lewis escreveu o livro mudou? Ou ainda produzimos homens sem peito?

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