Não volte a pescar, Jesus está vivo

Trilha-sonora indicada para esta leitura: 

Havia passado mais ou menos três anos e seis meses desde o primeiro encontro de Simão Pedro com Jesus, desde o dia em que ele abandonou as redes que usava para fazer sua tradicional pescaria e, num ímpeto de fé, saiu pelas vilas, ruas e povoados de Israel acompanhando do próprio Deus encarnado para levar a Mensagem. Depois desse tempo todo, Pedro decide voltar ao que havia abandonado. Ele se levanta em direção àquelas mesmas redes de outro tempo. Ele ia de novo para o lugar de onde saiu. 

Pedro havia experimentado a vida com Cristo. Diferente de nós, o apóstolo viu Jesus face a face, tocou no Mestre, sentiu seu cheiro. Ele viveu com o Verbo. Pedro viu o Senhor operar milagres, curar enfermos, ressuscitar mortos, multiplicar comida, alimentar o corpo e alma de multidões. Mas, com a morte de Jesus, tudo isso parecia ter desmoronado. 

O Deus Onipotente em que ele depositou sua fé morreu desgraçadamente. O Todo-Poderoso não teve, na visão de Pedro, poder para o livrar da humilhação que sofreu. O Filho do Homem morreu com cuspe no rosto, xingado com os mais horrendos insultos, torturado, desnudo. Puseram, às portas de Jerusalém, o Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz para agonizar entre aqueles que julgamos ser os piores homens.

Diante de tudo isso, Pedro viu seu discurso público de fidelidade até a morte. Infelizmente, quando perguntaram se ele era discípulo daquele a quem os sacerdotes torturavam, ele negou o seu Mestre. Isso não apenas uma, mas três vezes. Ali havia sido exterminado, como falamos no Nordeste do Brasil, o cabra macho. Diante da necessidade de salvar a própria pele, rejeitou suas convicções.

O valente Pedro se acovardou e agora se escondia na sala de uma casa, com seus companheiros de discipulado, igualmente apavorados. Tudo estava acabado para o homem chamado para ser pescador de homens pelo Filho do Homem.

Quando perdemos alguém que amamos, costumamos procurar meios de amenizar a dor daquela perda. Imagino que foi com este pensamento que o apóstolo havia rejeitado os rumores que apontavam para volta de Jesus dos mortos. E mesmo que Ele estivesse vivo, com que cara Pedro o encararia depois de o negar? Eu, particularmente, quando erro, não me sinto confortável com a pessoa contra quem errei. Acho que todos somos assim.

Depois de tudo isso, era normal que Pedro quisesse esquecer de tudo, que se propusesse a se afastar de seus companheiros, porque o motivo inicial da união havia morrido. Era normal tudo isso. É isso que ele faz. Ele decidiu voltar ao início de tudo: ao alto mar, à velha profissão e, talvez, aos mesmos fracassos de antes do momento que conheceu Jesus.

Tudo voltou ao mesmo lugar dos tempos sem Cristo. Pedro vai, ao lado de João, o discípulo amado, pescar de novo. O tempo antes do dia do chamado parece ter voltado até que, da areia da praia, um grito foi ouvido. 

— “O que vocês tem aí?” — grita um desconhecido na praia, depois de mais uma noite de fracasso na pescaria.— “Nada.” —respondeu um dos pescadores— “Lancem a rede a sua direita.” — aconselha o homem.

Os pescadores obedeceram e lançaram a rede outra vez. Depois do primeiro encontro com Jesus, há alguns anos, eles aprenderam a não questionar esse tipo de ordem. Obedeceram e viram a rede, mais uma vez, cheia de peixes.  João, não pela aparência daquEle que lhes deu ordem, mas pela forma com Ele que falou, identificou quem era: É Ele! É Jesus!

Jesus estava —  E ESTÁ — vivo. Não era preciso voltar a pescar. Talvez a fisionomia de Cristo, na beira da praia, estivesse um pouco diferente, mas Pedro e João sabiam que aquEle era o mesmo Deus companheiro de sempre. O Jesus imutável e amoroso. Assim, observando a oportunidade de não mais ter como sua última lembrança com Cristo, seu amigo, a vergonha de tê-lo negado, Pedro salta do barco com sua túnica recém-vestida, porque estava nu durante a pescaria, e sai ao seu encontro do Mestre. Posso imaginar a cena e vejo um apóstolo alvoroçado para abraçar Jesus, sem poder esperar que o barco navegasse mais noventa metros até chegar na praia.

Pedro chega à praia, e ali estava Jesus. Sim, o Mestre que o chamou em outros tempos. O Mestre dos anos passados e agora da eternidade, estava na areia já com seu peixe e pão, sendo preparados em brasas disposto a se apresentar a seus amigos e reafirmar seu propósito com aquele que o negou. Então, o Homem mandou que recolhessem os 153 peixes da pesca e convidou todos para comer. A janta já estava pronta. E a conversa seria longa.

Imagino que Pedro pensou que sua postura compreensivelmente covarde, acompanhada de seus seguidos erros na última noite com Jesus, havia feito com que Deus Conosco desistisse dele e estivesse ali para retirar sua posição de apóstolo. Mas o Verbo não estava ali para isso. O Mestre voltou para mostrar mais que declarações de amor. Ele veio para, por meio de suas ações, que falariam naquele instante mais que palavras, demonstrar que amava Pedro, ainda que não ignorasse que Simão Barjonas o havia traído.

Às vezes, imaginamos castigos horríveis de um Deus soberano que lança ao inferno, como diz a Bíblia. Mas o Evangelho também mostra um Senhor disposto a nos ajudar a refazer nossa estúpida trilha, e voltar àquele caminho que nos leva ao Reino Celestial. Não é tarde demais para botar em prática nosso discipulado e ensinar o que aprendemos com o Messias. Na verdade, este é o tempo. 

Se necessário, tenho certeza, Jesus Cristo virá restaurar nosso caminho, como fez com Pedro, para que o “Caminho, a Verdade e a Vida” alcance outras almas. Com Pedro foi assim. Por três vezes, ele negou a Cristo. Por três vezes, ele teve que repetir a mesma resposta para a mesma pergunta: “Pedro, tu me amas? Então, cuida das minhas ovelhas”. Jesus queria que, por meio de Pedro, a Mensagem chegasse a tantos outros. 

Nós não cabemos mais ali, porque não devemos voltar a pescar. Jesus está vivo!

Não acabou na cruz. A história continua e o Príncipe da paz precisa ser pregado à humanidade sem Deus, sem paz e sem salvação. Então, não volte a pescar peixes comuns, pesque almas. Jesus ressuscitou e está vivo!

Texto escrito por Marcelo Aprígio, escritor do LdeLiberdade, exclusivamente para o Narniano. Siga-o no Instagram.

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